Ciência e Ideologia: Repensando a Crise da Antropologia

Arlindo João Uate

Resumo


O trabalho reflecte sobre a história do surgimento e desenvolvimento da Antropologia enquanto ciência da sociedade humana. Por meio da indagação sobre a real preocupação desta ciência ao longo dos tempos, propõe-se que a sua crise seja repensada e situada noutros domínios, dado que, mesmo a história da disciplina oferecendo elementos para que a mesma seja discutida, a Antropologia com mais de um século e meio de existência, a sua crise, ainda continua a ser vista apenas sob ponto de vista do seu objecto de estudo, os chamados “povos primitivos”. Advoga-se no trabalho que, a crise do objecto de estudo da Antropologia, mais do que ser vista como uma crise científica, é na verdade uma crise ideológica e política do colonialismo, visto que, a preocupação científica fundamental da Antropologia, de conhecer como funcionam as sociedades existentes no mundo, não mudou e continua a orientar os trabalhos antropológicos na actualidade. Assim, a crise desta ciência, deve ser repensada e situada igualmente no domínio da sua linguagem analítica, isto é, sob ponto de vista de paradigmas teóricas que ao longo do tempo foram sendo questionadas, criticadas e destruídas.

Palavras-Chave: Ciência, Ideologia, Antropologia e Crise

 


The work reflects on the history of the emergence and development of Anthropology as a science of human society. Through the inquiry about the real concern of this science throughout the ages, it is proposed that its crisis be rethought and located in other domains, since even the history of the discipline offering elements for it to be discussed, Anthropology with more of a century and a half of existence, its crisis, still continues to be seen only from the point of view of its object of study, the so-called “primitive peoples”. It is argued in the work that the crisis of the object of study of anthropology, rather than being seen as a scientific crisis, is in fact an ideological and political crisis of colonialism, since the fundamental scientific concern of Anthropology, societies exist in the world, has not changed and continues to guide the anthropological works at the present time. Thus, the crisis of this science must be rethought and placed equally within the domain of its analytical language, that is, from the point of view of theoretical paradigms that over time have been questioned, criticized and destroyed.

 

Keywords: Science, Ideology, Anthropology and Crisis


Referências


BARNARD, Alan. (2000). History and Theory in Anthropology. Cambridge: University Press.

COPANS, Jean et al. (1971). Antropologia: Ciências Das Sociedades Primitivas? Lisboa: Edições 70.

COPANS, Jean. (1981). Críticas e Políticas da Antropologia. Lisboa: Edições 70.

DEMO, Pedro. (1985). Metodologia Científica em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas

GALLO, Donato. (1988). “O Saber Colonial e a Antropologia Aplicada Através dos Relatórios Confidenciais do Centro de Estudos Políticos e Sociais (1950-1960) ” in Antropologia e Colonialismo: o Saber Português. Lisboa: erheptágono, pp 79-91.

GEFFRAY, Christian. (2000). Nem pai nem mãe. Crítica do parentesco: o caso macua. Maputo, Ndjira.

GODELIER, Maurice. (1992). “Espelho meu, espelho meu: o papel da Antropologia no passado e no futuro: uma avaliação provisória” in Ler História. pp 101-116.

JUNOD, Henri. (1986). Usos e Costumes dos Bantu. Maputo, Arquivo Histórico de Moçambique, Tomo I.

MERCIER, Paul. (1986). História da Antropologia. Lisboa: Teorema.

MUNANGA, Kabengele. (1978). “A Antropologia e a Colonização da África” in Estudos Afro-Asiáticos. Rio de Janeiro.

PINA-CABRAL, Joao de (1998) “Antropologia e a Questão Disciplinar”, in Análise social, vol XXXIII (149), pp. 10081-1092

ROWLAND, Robert. (1997). Antropologia, História e Diferença: Alguns Aspectos. Porto: Edições Afrontamento. 3 ed.

SANTOS, Rafael José dos. (2005). Antropologia para que não vai ser antropólogo. Porto Alegre. Tomo Editorial.


Apontadores

  • Não há apontadores.