Por trás das redes: um olhar sobre a ostentação virtual na esteira do consumismo

Joaquim Chiguemanha Oliveira

Resumo


Este artigo é uma reflexão em torno do consumismo e da ostentação que, de algum tempo para cá, vem dominando as redes sociais um pouco pelo mundo fora. O mesmo procura mostrar como o aparente bem-estar virtual de muitos pode ser, na verdade, um vazio real, e compreender como essa dicotomia existencial pode
comprometer o futuro de cada um e das sociedades, sobretudo, as mais pobres.
Trata-se de uma das inúmeras marcas do consumismo que, no advento das tecnologias de informação e comunicação, se espalha tão rapidamente, multiplicando as suas vítimas. É facto que países do Terceiro Mundo, a exemplo de Moçambique, não configuram o patamar de uma sociedade de consumo, cuja característica principal reside no desenvolvimento industrial. Entretanto há muito que o consumismo ganhou terreno no seio das sociedades pobres, sobretudo, entre a camada mais jovem. A oferta vem de todos os lados, contra uma procura ainda tímida, naturalmente, pelo fraco poder aquisitivo da maioria dos cidadãos. É daqui, precisamente, que emerge uma das faces mais sombrias desse fenómeno: os meios a usar para a obtenção de recursos para sustentar a famigerada pose de bem-estar. Ao que se assiste, nenhum sacrifício é demasiado grande para esse supérfluo desiderato, cenário que tende a crescer com o agudizar da virtualização das relações.

 

Abstract
This article is a reflection on consumerism and ostentation that, for some time now, has dominated social networks around the world. It seeks to show how the apparent virtual well-being of many can, factually, be a real void, and to understand how this existential dichotomy can compromise the future of each individual and the societies, especially the poorest. It is one of the countless brands of consumerism that, with the advent of information and communication technologies, spreads so quickly, multiplying its victims. It is factual that Third World countries, like Mozambique, do not constitute the level of a consumer society, whose main characteristic lies in the industrial development. However it has been long since consumerism gained ground in the midst of poor societies, especially among the younger generation. The offer comes from all sides, against a demand that is still timid, naturally, due to the weak purchasing power of the majority of citizens. It is precisely from here that one of the darkest faces of this phenomenon emerges: the means to be used to obtain resources to sustain the infamous pose of well-being. As we can see, no sacrifice is greater for this superfluous desire, a scenario that tends to grow with the sharpening of the virtualization of relations.


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Por trás das redes

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